terça-feira, 8 de novembro de 2011

Deixa eu dizer que te amo?


Se me deixa dizer, minhas esperanças todas borbulham e meus ouvidos atentos esperam o "eu também". E se não me der o "eu também" ainda assim ficarão atentos, talvez eternamente.

Se não me deixar dizer, olharei para o chão, respirarei fundo. Mas isso não quer dizer que me trancarei imediatamente também. A porta estará entreaberta, para aos poucos eu ir me livrando da vontade de dizer que te amo. Então um dia, olharei para a porta entreaberta e sentirei o vento frio que vem dela e me perguntarei: "Por que esta bendita porta está aberta?", levantarei e trancarei.

O que prefiro? Honestamente, que me deixe dizer. Mesmo que não tenha o “eu também” pra me retribuir. Quero sentir sim a sensação da esperança borbulhando. Quero ter meus ouvidos abertos, e mesmo meus olhos, para a qualquer momento... E mesmo que nenhum sinal me seja dado... Eu tenho vontade demais de dizer que te amo.

E que desesperança a minha agora! Talvez não me queira dizer “eu também”, mas tenha coisa melhor! Que me diga assim, algo bonito, que me faça trancar a porta contigo lá dentro e nunca sentir frio.

domingo, 4 de setembro de 2011

Um conto sem fadas


Nunca conheceu o lenhador

porque não se aventurou pelo atalho

Nunca foi acordada com um beijo

porque não comeu a maçã da velha estranha

Nem se arriscou a costurar sem o dedal

Nunca jogou as tranças

Sempre foi obediente

E não trocou nada por feijões encantados

Não se atreveu a ir a festas com sapatos de cristal

Nem com sapato nenhum


Nem carruagem

Nem príncipe

Nem fadas

Apenas o clausuro

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Cantiga minha

O primeiro foi seu pai

O segundo seu irmão

O terceiro foi aquele

Que roubou seu coração

Foi o seu primeiro beijo

Foi o príncipe encantado

O menino mais bonito

Seu primeiro namorado

O quarto foi um tolo

Foi usado pra esquecer

Mas não fez a diferença

E foi posto pra correr

O quinto era rico

Ofereceu-lhe casamento

Mas não estava preparada

Pra casar naquele momento

O sexto, um marinheiro

Deu-lhe um beijo e partiu

E nem sabe onde anda

O tal guerreiro do Brasil

O sétimo era bonito

E acendeu-lhe a paixão

Mas o pobre não sabia

Como tratar um coração

O oitavo até tentou

Deu-lhe a rosa mais bonita

Mas era um tanto jovem

Precisava curtir sua vida

O nono então chegou

Não era nem o mais bonito

Do seu lado se sentou

Com um riso esquisito

Escutou todo seu choro

Abraçou-lhe bem sincero

Então se declarou

Você é tudo o que eu quero

Não deu rosa, não deu ouro

Nem foi o mais charmoso

Mas deu seu coração

E virou o seu esposo

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A menina de tranças

Uma Tristeza vive no coração daquela menina de tranças. Tamanha é a Tristeza que o pobrezinho vive no escuro dos olhos embaçados. Então seu Vento passou pra levar a vida da menina. Mas ela não deixou, não. “Deixe-a aqui, senhor Vento”! Ela disse.

“Quero assim mesmo essa vida amarrotada, suja, rasgada largue-a ai, mesmo!” Porque ela não consegue sentir agora, mas há nela uma Esperancinha boinha lá dentro, ela está escondidinha, desaparecida quase! Mas se vem o Vento, ela aparece! Aparece feito onça brava! Agarra o trapo de vida e não larga, não deixa o Vento levar, não!

Mas quem vai levando, leva sorrateiro, em passo de bandido é o Tempo. Pegou numa ponta lá do início da vida e vai arrastando pela porta de saída. A dona Esperança nem vê, nem se atenta... Pensa uma coisa boa pra um pedaço de vida e quando se dá conta o Tempo já levou aquele pedaço que ela queria. Ela não liga, afinal, dona Esperança só olha pra frente! Planeja outra coisa pra outro pedaço de vida.

Agora mesmo que os olhos da menina estão profundos e encharcados, o Tempo está levando um monte de vida e a Esperancinha dormindo, aproveita o escuro e dorme. “Como vou trabalhar nesse escuro? Quando estiver de saída me acorde, dona Tristeza!” Diz a dona Esperança. Aí fica fácil pro Tempo levar quanta vida ele quiser, leva muito que ninguém vê. O doutor Medo, que é doutor em avisar o provável e possível, ainda grita no escuro, mas ninguém ouve, tem medo, coitado, de o Tempo levar tudo e não sobrar nem tempo, nem vento, nem vida, nem nada.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Leva tempo,
como leva o vento e como a chuva lava,
mas leva de leve
e deixa o peito livre.

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Quando eu era criança queria ser atriz, adolescente e até pouco tempo ainda queria. É estranho, ainda sinto a responsabilidade de acordar cedo colocar o uniforme e ir pra aula, encontrar os comuns e velhos amigos de todos os dias e simplesmente aprender. Mas não, não estou mais no ensino médio. Não sou mais adolescente por mais estranho que seja dizer isso. Também não sou tão velha, mas já posso dizer que realmente a vida passa muito rápido. E rápidas são tomadas as decisões. Não me arrependo do que faço, adoro ser professora. Não sentia no final de uma peça o que sinto hoje saindo da sala de aula. Uma sensação de estar mudando o mundo aos pouquinhos, que racionalmente parece até meio ridícula, mas é incrivelmente gostosa. Sem contar que todos os dias eu apresento um espetáculo, para as mesmas platéias, o que me leva a me superar dia após dia. Mas nem sempre foi assim.
Lembro a primeira vez que entrei em uma sala de aula pra lecionar. Eram criancinhas pequenininhas do maternal que faziam muita bagunça, e algumas ainda choravam com falta da mãe. Eu entendi o significado da palavra ‘tia’ no contexto de uma sala de aula, e me recusei a lembrar do título “professora sim, tia não” de um livro do Paulo Freire. “Professora sim, tia também!” eu pensava! Os amei de todo coração. Mas a sensação mais incrível demorou um pouco pra acontecer. Eu já entrara na faculdade e fui trabalhar em uma escola do governo. Eram crianças de onze, doze anos e bem levadas também, mas eu me divertia com eles e foi uma surpresa quando descobri que a turma era só de alunos “problemáticos”. Então, como tudo que é bom dura pouco, e dura menos ainda se depender do governo, o projeto foi paralisado por falta de verbas. Que tristeza! Deixar meus pimpolhos, e de onde agora tiraria minha alegria de viver? E aquela sensação boa depois do sinal tocar? E todas as aulas planejadas? Foi quando eu voltei a dar aula em uma escola particular. Ganhava bem melhor. Não, não ganhava. Parecia não compensar, porque eu não tinha vontade de ir, nem de montar aulas, e o tempo em sala que era menor, parecia uma eternidade. Que crueldade!
Duvido que exista coisa mais cativante no mundo inteirinho, na vida de qualquer um do que olhar de criança. E tinha uma menina de cabelos bem cacheados, bochechas bem redonda e olhos tão grandes que me chamavam atenção durante toda a aula. E que alegria ela tinha. Eu jogava minha desmotivação de lado, respirava fundo puxando todo o profissionalismo e entrava na sala, e ela aos poucos ia me guiando com seus olhões, mostrando os outros olhos, as outras alegrias e eles diziam assim com seus olhões: tia, estamos aqui e também queremos aprender! Ah, que delícia! Três ou quatros aulas depois do primeiro encontro desmotivado eu já saia da escola saltitando, com o mesmo sentimento que me impulsionava antes.
Atrizes não fazem só as peças que querem. Às vezes assumem um papel que não gostam. Mas talvez com o decorrer da peça elas acabem se apegando ao personagem, ou a platéia acaba estimulando o trabalho. Mas não são platéias como as minhas! As minhas são sempre as melhores, elas têm uns olhões...

domingo, 23 de maio de 2010

Por
que
quem
eu
quero
não
me
quer
como
quem
eu
não
quero
que
me
queira
me
quer
?